sábado, 16 de janeiro de 2010
Uma mensagem sem fé, nem esperança
Os olhos do mundo se voltam para o Haiti. E porque isso agora? Certamente não por uma súbita revolta e inconformismo com anos de exploração e autoritarismo político de uma minoria privilegiada. Tampouco pelo reconhecimento de sua cultura rica e extremante interessante. Não foi também uma grande revolução que, como em 1791, inspirou escravos por todo o mundo e aterrorizou senhores com seu grito de liberdade.
O mundo olha para mais uma tragédia que atingi esse povo sofrido. É comum ouvirmos o quanto é lamentável que além de tanta pobreza, o país seja atingido por um desastre natural que nada poderíamos fazer para impedir. Claro que não poderíamos simplesmente impedir que as placas tectônicas em choque provocassem o tremor de terra, mas esta tragédia é sim mais uma das milhares de tragédias causadas pelo homem.
A revolução escrava haitiana de 1971, que expulsou e matou todos os senhores de escravos do país sobre a liderança de Toussaint L’Overture, é um exemplo de que não haverá uma mudança real na sociedade se não for mudado o sistema que produz tais injustiças. Uma nova classe privilegiada logo se formou e a exploração da maioria da população manteve-se. A diferença é que não mais seu sangue era sugado pelo homem branco, mas sim pelos próprios revolucionários negros. Poderia escrever um texto só sobre os desmandos e a exploração que a classe dominante do Haiti proporcionou ao longo da história. Poderia relatar as inúmeras intervenções e ocupações estrangeiras, desde o Estados Unidos de 1915 à 1934, até o Brasil em 2004. Mas o mais importante disso tudo é entendermos que anos e mais anos de hiper-exploração levaram o Haiti a se tornar o país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo e é por isso que eu afirmo que a tragédia natural que matou cerca de 200.000 haitianos é mais uma mancha de sangue nas mãos da humanidade
O Haiti, assim como o Japão, está numa área sujeita a tais fenômenos naturais potencialmente destrutivos. O que explicaria então, que no Japão um terremoto desses não mata um número tão absurdo de pessoas como o terremoto do Haiti. Somos bombardeados todos os dias com a falácia da globalização e seus benefícios. União de culturas, um mundo conectado. Mas o que não se fala é que as culturas que se unem são aquelas que interessam aos lucrativos investimentos das multinacionais. O Haiti, assim como diversos de outros países do globo, são invisíveis para os olhos da globalização. Alguém sabe qual é a língua mais falada do Haiti? Alguém sabe qual é a religião mais cultuada? Se alguém souber que essa religião é o Voodu, sabe que ela nada tem haver com o que vemos nos filmes da Disney com bonequinhos espetados por alfinetes? Não... Nada sabemos sobre o que se passa no Haiti, pois não é lucrativo saber.
O mundo hoje chora a tragédia. Super Top Models doam milhões e milhões de dólares para o país e algumas já devem ta comprando suas passagens para África – não é lá que o Haiti fica? – para aparecer doando alimentos com os lhos lacrimejando. Agora, até quando será lucrativo chorarmos a tragédia do Haiti? É só imaginarmos que quando o furacão arrasou Nova Orleans nos Estados Unidos, o mundo também de comoveu, mas logo logo também esqueceu. E o fato da mídia não dar mais atenção àquela cidade de predominância negra dos Estados Unidos, não diminui o sofrimento dos milhares de desabrigados pela enchente que foram o enganado e caloteado pelas seguradoras. Isso porque estamos falando dos Estados Unidos. Imagina o Haiti? Quando não der mais audiência falar dos milhares de mortos, do esforço do exército brasileiro que a despeito da ocupação criminosa e repressora, se esforça para salvar a vida dos cidadãos, quando um branco de classe média alta for assassinado na zona sul e a televisão não mais falar do pequeno país da América Central, não quer dizer que o sofrimento do povo haitiano diminuirá.
Muitos preferem nessas horas escrever mensagens de fé e esperança sobre a tragédia. Mas nem a fé, nem a esperança – esperança essa que há muito tempo abandonou esse povo - mudará o fato de que o dinheiro doado para o Haiti, será administrado pelas mesmas pessoas que há séculos roubam e exploram. Nem amor e solidariedade mudará o fato de que assim que toda ajuda que foi mandada pra lá for retirada, o país se reconstruirá nos mesmos moldes que antes, com uma classe dominante massacrando a maioria ferrada da população com respaldo da missão de “paz” do exército brasileiro que reprime violentamente qualquer manifestação e revolta dessa população.
Não... Não há fé, amor, esperança ou qualquer uma dessas palavras bonitas que tanto nossa e a mídia mundial tenta valorizar agora. Essa foi mais uma tragédia de um povo, que não é maior nem menor que a cotidiana tragédia daqueles que sobrevivem a vida inteira como escravos do capitalismo e sua pseudo liberdade por todo o mundo.
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ERRATA: "A revolução escrava haitiana de 1971," troca por 1791
ResponderExcluirEu realmente pensei em escrever algo no meu blog sobre o Haiti. Mas depois do que você escreveu, não sei mais o que escrever.
ResponderExcluirParabéns!